"Portugal, pelo seu clima e pela natureza do solo, é, fora um ou outro raro lugar, o país da árvore". Agostinho da Silva

Grandes, pequenas, formosas, circunspectas, imponentes ou frágeis. Dão, sem pedir nada. E são, simplesmente. Respiram, respiram-nos e fazem respirar. Amam, amam-nos e fazem-nos amar. Conta-se que um jovem cavaleiro cansado de travar batalhas infindáveis e de desfecho previsível refugiava-se na floresta. As árvores ouviam-no pacientemente e um dia decidiram falar-lhe. Amai-vos uns aos Outros Como Nós Vos Amamos. Tomado de assalto pela revelação, o cavaleiro decidiu ali mesmo abandonar a carreira militar e dedicar-se a uma vida nova de aprendizagem com aquelas árvores sagradas. Estamos certos de que todos teremos muito a aprender com o mistério das Árvores do Amor. A nossa mensagem também é simples. Amar-vores uns aos Outros. Como Elas vos Amam. Parece fácil. E é.

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domingo, 30 de junho de 2013

FLORESTA DE EUCALIPTO
 
Não é por acaso que o Génesis sintetiza a criação do Cosmos com a metáfora da Árvore da Vida.
Cosmogonia eternizada em toda a tradição cristã e judaica e, como soubemos, mais tarde, graças ao labor dos historiadores das religiões, presente em quase todas as tradições, primitivas ou mais recentes, do planeta. Porque a árvore simboliza o fluxo e refluxo de vida, que se transmuta numa criação contínua e, se transportássemos o assunto para a física moderna, poderíamos falar da criação contínua a partir do vazio quântico até à infinita profusão de galáxias, estrelas, planetas e formas de vida aqui na Terra. Será a árvore essa estrutura, real e imaginária, que assegura o ciclo permanente e todos os permanentes renascimentos?
Devaneios filosóficos à parte, a árvore, celebrada desde que o Homem pisou pela primeira vez a superfície terrestre, sacrificou-se para renascer ela própria em novas vidas. A árvore, fonte, matriz planetária da transmutação de oxigénio, de inspiração e matéria-prima, soube que tinha outros desígnios. Algumas árvores souberam que tinham de deixar de ser apenas fonte, separar-se das suas irmãs, abandonar a floresta-mãe e partir rumo a uma nova etapa existencial. E foi então que a árvore deu à vida e luz à Civilização. Fácil de trabalhar, a árvore renasceu como utensílio doméstico, alfaia agrícola, peça de mobiliário, meio de transporte, escultura e estruturas arquitectónicas. Cada povo relacionou-se com a árvore de acordo com as necessidades e conhecimentos que ao tempo lhe eram disponíveis.
Pura ou combinada com outros elementos, como o barro, a palha, a pedra, e o ferro, a nova entidade árvore-madeira, longe da floresta-berço, ajudava a Humanidade a crescer. Claro que aos tropeções, e ainda o faz, como um bebé, mas parece que é condição para qualquer tipo de crescimento.
E se árvore deu vida e se deu à vida para materializar a Cultura e a Civilização, uma outra revolução, para a Humanidade, e um terceiro renascimento estariam à sua espera. Desde sempre que o Homem, associado às actividades do pensamento, da lógica, da reflexão e na necessidade de comunicação, representa imagens em paredes rochosas, pedras, ossos ou nas próprias árvores. A complexificação do raciocínio, do pensar e sentir o mundo, bem como uma maior capacidade de adaptação ao meio envolvente, marca as etapas da criação de placas de barro cozido, tecidos de fibras, papiros e pergaminhos. O papel seria o corolário de um percurso ascendente. O Livro em papel, e todos os seus sucedâneos, marcam para sempre a história da Humanidade. E das árvores.
 Alguns historiadores remontam aos tempos do império chinês as primeiras produções de papel através de um processo que combinava redes de pesca e trapos. O método resumia-se à cozedura, a temperaturas elevadas, das fibras, sendo depois esmagadas. Com a disseminação das fibras, os artesãos obtinham uma pasta, que após um processo de depuração, juntamente com uma folha, formada a partir de uma peneira de juncos delgados unidos por fios de seda, eram dispostos numa armação de madeira. Com este método, conseguiam obter uma folha de celulose sobre o molde após a imersão na tinta que acumulava a dispersão das fibras. Esta era a China que dava cartas na matemática, na astronomia, na filosofia e das grandes trocas comerciais no Índico.
Com a revolução industrial, a produção e cultura de massas, as novas tecnologias e a sociedade de informação, entre os séculos XIX e XXI o mundo entrou numa velocidade de produção sem paralelo no seu percurso pretérito. Se o livro na Idade Média era um luxo reservado a mosteiros e às raras universidades à época existentes, se nos séculos seguintes, a sua produção não massiva chegava apenas às elites, a industrialização e a democratização da cultura no século XX (desde a erudita à pop até ao novela de cordel ou à revista cor-de-rosa) tornou o livro, bem como todos os seus sucedâneos, revistas, magazines, jornais, catálogos, bem essenciais de uso quotidiano.
A Árvore, primeiro o pinheiro, mas hoje em dia sobretudo o eucalipto, renasceu então como fonte de conhecimento. Como fonte de diversão e evasão, pois claro. De Rimbaud e Jorge Luís Borges a Margarida Rebelo Pinto, da Rolling Stone à Hola, há árvores-informação para todas as sensibilidades,
gostos, olhares e feitios. Aldous Huxley pode alertarnos para o perigo do Big Brother, o verdadeiro, que no dia seguinte há um concorrente do reality show, a lançar um livro. Tudo é possível. Para o bem e para o mal. E para além dele, diria Nietzche.
Para o bem de todos os novos renascimentos, nossos e das árvores, felizmente, como o ecologista
Leonardo Boff alertou, a indústria de produção de papel está bem ciente de que obras-primas, bestseller´s, romances de cordel ou biografias de reality shows, todos têm lugar no mercado, mas sempre em plena e sã convivência com a preservação do mundo natural. Do mundo artístico e académico à azáfama do escritório, o papel coexiste. Mas é bom que nos lembremos que em cada folha, em cada rabisco de nota que fazemos, seja para a lista de compras no supermercado, ou para escrever uma peça de teatro há ali uma árvore. E tem nome.
Chama-se eucalipto.
 
Texto Nuno Costa

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